Os professores constituem o mais importante recurso em educação. Devido a este facto e à complexidade dos estudos geográficos, são essenciais professores especialistas possuidores de uma adequada formação profissional.
Carta Internacional da Educação Geográfica

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Reflexão Final

Imagem de Rosto da UC Didática da Geografia na Plataforma Moodle

É chegado o momento de efetuar uma reflexão final a propósito da Unidade Curricular (UC) de Didática da Geografia. Não estarei a exagerar se disser que esta foi uma das UC´s que mais gostei de frequentar ao longo deste primeiro semestre do Mestrado em Ensino de Geografia. Na minha opinião, em Didática da Geografia foram abordados vários temas, qualquer um deles com especial relevância quando pensamos na futura prática profissional de aspirantes a professores de Geografia.

Tudo começou com a Carta Internacional da Educação Geográfica, documento de base, incontornável quando refletimos acerca do ensino da Geografia. Nele encontramos os desafios, as questões, os conceitos e toda uma série de aspetos que fazem o cruzamento entre a Geografia e a Educação, acabando por enquadrar aquilo que se entende por Educação Geográfica. Trata-se, a meu ver, de um documento fundamental que deve nortear a prática profissional de qualquer professor de Geografia, não devendo, por isso, ser esquecido. No fundo, penso que podemos dizer que a UC se desenvolveu em torno da chamada Geografia Escolar, noção que foi explorada e cujas especificidades nos permitem compreender questões fundamentais, como por exemplo quais devem ser as preocupações do professor ao nível do “tipo” de Geografia que vai ensinar, como é que a vai ensinar e ainda porquê ensiná-la. São questões que, na minha opinião, permitem ao professor refletir acerca da sua própria prática profissional, consciencializando-se verdadeiramente da importância da mesma. Outro dos temas que mereceu, igualmente, destaque no âmbito das sessões da UC diz respeito aos conceitos-chave em Geografia. Qualquer ciência apresenta o seu próprio corpo teórico, materializado por conjuntos de conceitos que a estruturam e que acabam por conferir-lhe a verdadeira cientificidade. A Geografia não é, naturalmente, uma exceção, sendo imprescindível que quem a queira ensinar domine os respetivos conceitos-chave. Através destes conceitos, o professor pode, inclusivamente, encontrar um canal privilegiado para chegar aos seus alunos, cativando-os para a importância e utilidade da ciência geográfica, algo que vem, a meu ver, reforçar ainda mais o papel de relevo que pode e deve ser atribuído a estes conceitos, tais como Espaço, Lugar, Território, Escala, entre muitos outros. Não existe um único método para ensinar Geografia, mas sim vários tipos de abordagens possíveis. Este foi mais um dos temas tratados, havendo oportunidade de tomar contacto com diferentes métodos, cada um com as respetivas vantagens e desvantagens e estando associados a autores que se têm debruçado sobre estas questões. A este propósito foi também destacada a importância do levantamento das ideias prévias dos alunos, algo que considero de especial importância, na medida que pode fornecer ao professor elementos que o podem ajudar a estruturar a sua própria prática no sentido de poder proporcionar experiências de aprendizagem verdadeiramente significativas para os seus alunos. De igual modo, as grandes correntes do pensamento geográfico foram abordadas, um tema igualmente importante no âmbito da Geografia Escolar, em que pode privilegiar-se uma abordagem focada na diversidade de paradigmas, algo que pode também contribuir para uma prática profissional mais rica ao nível tipo de abordagem privilegiado. Numa UC ligada às questões da didática compreende-se também uma referência aos aspetos mais relacionados com o desenvolvimento cognitivo, as várias teorias desenvolvidas por diversos autores a propósito destas temáticas, numa abordagem centrada principalmente nas implicações destes aspetos ao nível do ensino/aprendizagem da Geografia, o que considero também relevante para um futuro docente. Houve ainda espaço para as questões ligadas à organização curricular da Geografia, tomando-se contacto com documentos incontornáveis para um futuro professor de Geografia, na medida que “estruturam” o ensino desta área curricular, sendo impossível ignorá-los. A este propósito, penso que ficou patente um aspeto que considero relevante e que se prende com o facto de este tipo de documentos sofrer alterações relativamente frequentes, algo que tem acontecido ao longo do tempo e para o qual qualquer professor deve estar também preparado. Outro dos temas fundamentais, abordados em Didática da Geografia, diz respeito aos manuais escolares, instrumentos que têm tido, têm e certamente terão um papel de especial relevo quando falamos de ensino de uma maneira geral e, neste caso, ao nível da Geografia, mais particularmente. O trabalho de grupo realizado no âmbito da UC incidiu, precisamente, sobre esta temática, permitindo um tratamento mais aprofundado da mesma. Por fim, mas não menos importante, foi ainda abordada a Geografia numa perspetiva de educação para o futuro, explorando-se as ligações que podem ser estabelecidas entre a educação geográfica e algumas dimensões transversais quando falamos em educação, relacionadas por exemplo com a educação para a cidadania, a educação para o desenvolvimento sustentável e ainda a educação para o mundo tecnológico. Foram, assim, vários os temas abordados ao longo das sessões da UC de Didática da Geografia, todos eles, a meu ver, relevantes no âmbito da mesma. Ainda a este propósito gostaria de destacar o facto de a UC ter sido lecionada por dois docentes, um aspeto que considero importante, na medida que contribuiu para uma diversificação e enriquecimento da UC, de um modo geral.

Gostaria ainda de fazer referência ao blogue que funcionou como jornal de reflexão individual em torno da UC, um espaço onde procurei publicar os meus comentários e reflexões a propósito de algumas leituras que fui fazendo ao longo do semestre sobre temas que me pareceram relevantes no âmbito dos objetivos desta UC. A elaboração deste blogue decorreu numa lógica de complemento face aos temas abordados nas sessões e às respetivas leituras, o que, a meu ver, foi bastante positivo.

A propósito da razão de ser da Educação Geográfica


Callai, H. (2012). Educação Geográfica: ensinar e aprender Geografia. In Castellar S & Munhoz, G. (org.), Conhecimentos escolares e caminhos metodológicos (pp.73-87). Xamã Editora, São Paulo: Xamã Editora

Neste texto, intitulado Educação geográfica: ensinar e aprender Geografia, Helena Callai apresenta uma reflexão em torno de vários aspetos a propósito da educação geográfica, nomeadamente a importância da mesma, bem como a sua razão de existir. Logo na introdução do texto, a autora refere que “a educação geográfica diz respeito a: ensinar Geografia para que? Se for simplesmente para cumprir um compromisso com um rol de conhecimentos específicos, não há sentido de se pensar em educação geográfica; no entanto, se a perspetiva intrínseca do ensinar Geografia seja dar conta de explicar e compreender o mundo, de se situar no contexto espacial e social em que se vive, de construir instrumentos para tornar o mundo mais justo para a humanidade, então está sendo cumprido o papel educativo de ensinar geografia” (pág.73). Poder-se-á, assim, dizer que esta ideia da autora reflete a verdadeira “missão” da educação geográfica, que acaba mesmo por justificar a sua existência. Ensinar Geografia fará, assim, realmente sentido quando, para além de tratar os conteúdos específicos desta disciplina, houver “a possibilidade de dar sentido mais significativo para esses temas, incorporando a subjetividade dos sujeitos e levando-os a pensar sobre o espaço em que vivem, seja ele o concreto e próximo, seja o distante” (pág.75). Estas afirmações deixam claras as principais preocupações que, segundo a autora, devem estar na base da educação geográfica, de modo que a mesma tenha, efetivamente, razão de ser e consiga alcançar os seus reais objetivos, proporcionando aprendizagens verdadeiramente significativas para quem aprende Geografia, permitindo, igualmente, que quem a ensina reflita sobre a sua prática profissional, no sentido de a tornar cada vez melhor. De acordo com Callai, o contributo da geografia escolar no processo de formação do indivíduo “baseia-se na possibilidade de compreensão do mundo atual com as novas demandas e uma nova espacialidade que é cada vez mais complexa e que reflete os fatos humanos e sociais que acontecem” (pág.78). Num mundo cada vez mais complexo, há que saber entender as constantes transformações que vão acontecendo, aspeto em que a educação geográfica pode desempenhar um papel de relevo, que não deve ser desvalorizado. “O ensino da Geografia caracteriza-se, então, como a possibilidade de desenvolver raciocínios geográficos por meio de um olhar espacial que permita compreender a sociedade” (pág.79).


Estes são, assim, os aspetos que estão na base desta reflexão de Helena Callai e que a autora transporta para questões como: Para que ensinar Geografia; Como ensinar Geografia; O que ensinar em Geografia e ainda Para quem ensinar Geografia. A leitura deste trabalho permite, então, ter noção das especificidades que devem estar associadas à geografia escolar, para que a mesma faça realmente sentido, especificidades estas que nos podem também remeter para os vários desafios com que o ensino da Geografia nas escolas se depara. “Se temos claro que estudar geografia significa aprender o mundo, podemos perceber o significado desse conteúdo no currículo da escola” (pág.87).