Os professores constituem o mais importante recurso em educação. Devido a este facto e à complexidade dos estudos geográficos, são essenciais professores especialistas possuidores de uma adequada formação profissional.
Carta Internacional da Educação Geográfica

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Comentário de Leitura: "Educar e Instruir" - Robert Dottrens



Dottrens, R. (1974). Educar e Instruir. Lisboa: Estampa.


Mais uma “relíquia” que nos apresenta alguns temas ligados ao ensino, nomeadamente aspetos relacionados com a educação moral e cívica, a educação estética, as ciências físicas e naturais, a educação física e o desporto e ainda um capítulo intitulado “A criança e o conhecimento do mundo”, no âmbito do qual é dedicado espaço ao ensino da Geografia.

Nesta obra, Dottrens foca-se no ensino dos alunos mais jovens, no entanto apresenta-nos algumas reflexões em torno do ensino da Geografia que acabam por poder aplicar-se aos vários níveis de ensino. O autor deixa-nos, desde logo, uma ideia clara daquele que é, para si, o objetivo da educação geográfica: A geografia é um ensino de cultura; não se aprende para saber, mas para agir, para compreender esse problema humano que é a adaptação dos homens ao seu meio. Mais adiante, Dottrens apresenta mais uma ideia, através da qual carateriza a ciência geográfica: A geografia é uma ciência descritiva e explicativa; ela localiza, descreve, compara. O autor destaca a importância da observação, direta e indireta, algo fundamental no âmbito da educação geográfica. Trata-se de desenvolver aquilo que o autor chama de espírito geográfico e que vai muito além da mera memorização de factos. Dottrens apresenta mesmo algumas experiências de aprendizagem, essencialmente vocacionadas para os alunos mais jovens. O autor faz referência, por exemplo, a uma atividade que tem por objetivo uma familiarização dos alunos quanto aos aspetos relacionados com o relevo. Basicamente, os alunos pegavam num mapa de grande escala, decalcavam as curvas de nível assinaladas no mesmo mapa, em seguida recortavam os vários planos obtidos, em cartão, terminando com uma sobreposição dos vários planos, por ordem crescente de altitude, chegando assim a uma representação do relevo.

No fundo, o autor reflete sobre a apropriação, por parte dos alunos, de vários conceitos e temas que dão forma ao conhecimento geográfico. Nas palavras de Dottrens: A geografia é antes de tudo uma disciplina educativa; bem ensinada, desempenha um papel importante na formação da inteligência e na cultura do espírito, com a condição de que o ensino seja activo.

Comentário de Leitura: "Práticas de Ensino" - Bruno Ciari


Ciari, B. (1979). Práticas de Ensino. Lisboa: Estampa. 


É certo que não estamos perante uma obra que possa ser considerada propriamente recente (data de finais dos anos 70), no entanto não é por isso que deixa de ser relevante e nos pode apresentar algumas ideias interessantes sobre a Geografia no âmbito da Educação.

Numa obra em que explora vários aspetos relacionados com o ensino, abordando questões ligadas à formação de base dos alunos, as relações entre experiência e aprendizagem, bem como as questões ligadas à Língua e à Matemática, Bruno Ciari dedica também um capítulo a alguns temas que o autor classifica como interdisciplinares, no âmbito dos quais se encontra, precisamente, a Geografia. Curiosamente, a primeira ideia transmitida por Ciari diz respeito ao reduzido valor atribuído à Geografia e ao seu ensino, o que nos pode permitir perceber qual era a visão geral relativamente a esta Ciência há mais de 35 anos atrás. Nas palavras do autor, se há ensino tido em baixa consideração do ponto de vista formativo, esse ensino é o da geografia, geralmente tomada como matéria secundária que envolve apenas um esforço de memória. As razões para este facto residiam, segundo o autor, no modo como a Geografia era ensinada, apelando-se muito mais à capacidade de memorização, do que propriamente à compreensão. Ciari refere, exemplos como a memorização de rios, montes, do número de habitantes de cada país, entre outros. Estudar geografia seria armazenar toda uma enorme quantidade de dados analíticos, vistos de um modo estático, como se o mundo sempre tivesse sido assim. O autor reflete, assim, em torno da necessidade de uma mudança, valorizando-se uma perspetiva integradora e de inter-relação entre fenómenos físicos e humanos, não esquecendo também a influência dos fatores históricos. Para Ciari estas mudanças significariam que a Geografia seria mais humanizada; não será já fria vivissecção mas sim compreensão inteligente de uma realidade viva.

Olhando para esta visão de Bruno Ciari, vemos que, efetivamente, o ensino da Geografia conheceu já várias transformações até aos dias de hoje. Porém, se pararmos para pensar, em algumas situações não prevalecerá ainda a memorização e não a compreensão?

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A propósito da "Carta Internacional da Educação Geográfica"



Uma leitura da Carta Internacional da Educação Geográfica conduz-nos a uma reflexão em torno da relevância da Geografia não só num âmbito educacional, mas também tendo em conta uma esfera mais global. A Carta alerta-nos, desde logo, para a dimensão geográfica inerente às grandes questões e problemas com que a Humanidade se depara. A Educação Geográfica torna-se, assim, fundamental na forma como qualquer indivíduo olha o mundo onde vive e reflete sobre as suas próprias ações, desenvolvendo uma identidade regional e nacional, mas não esquecendo também as questões internacionais e globais. A Geografia contribui, então, para a educação do indivíduo, através da promoção e desenvolvimento de um conjunto de conhecimentos e competências, que vão desde a expressão verbal, numérica e gráfica até a competências sociais. O contributo da Geografia num âmbito educativo não se esgota, porém, nestes aspetos mais individuais e, a este propósito, há que destacar os contributos para a Educação Internacional, Ambiental e para o Desenvolvimento, tal como nos refere também a Carta, o que vem reforçar o carácter transversal associado a esta ciência. A Geografia e a Educação Geográfica apresentam, naturalmente, as suas questões e conceitos-chave, fundamentalmente relacionados com o espaço, com a distribuição de pessoas e fenómenos à face da Terra, no entanto não esqueçamos os contributos e a interligação com os conteúdos de outras áreas do saber, o que vem, mais uma vez, reforçar o carácter integrador e a riqueza da Geografia em termos de conteúdos. Independentemente das abordagens privilegiadas, quando falamos em Educação Geográfica, há que levar os estudantes a questionar e investigar e, para tal, é fundamental a aposta na formação de professores, de modo que estes sejam profissionais capazes de promover aprendizagens que vão ao encontro de todos estes aspetos que atestam a importância da Educação Geográfica. Não será esta, afinal, a base da Didática da Geografia?