Ciari, B. (1979). Práticas
de Ensino. Lisboa: Estampa.
É certo que não estamos perante uma obra que possa ser
considerada propriamente recente (data de finais dos anos 70), no entanto não é
por isso que deixa de ser relevante e nos pode apresentar algumas ideias
interessantes sobre a Geografia no âmbito da Educação.
Numa obra em que explora vários aspetos relacionados com o ensino, abordando questões ligadas à formação de base dos alunos, as relações
entre experiência e aprendizagem, bem como as questões ligadas à Língua e à
Matemática, Bruno Ciari dedica também um capítulo a alguns temas que o autor
classifica como interdisciplinares,
no âmbito dos quais se encontra, precisamente, a Geografia. Curiosamente, a
primeira ideia transmitida por Ciari diz respeito ao reduzido valor atribuído à
Geografia e ao seu ensino, o que nos pode permitir perceber qual era a visão
geral relativamente a esta Ciência há mais de 35 anos atrás. Nas palavras do
autor, se há ensino tido em baixa
consideração do ponto de vista formativo, esse ensino é o da geografia,
geralmente tomada como matéria secundária que envolve apenas um esforço de
memória. As razões para este facto residiam, segundo o autor, no modo como
a Geografia era ensinada, apelando-se muito mais à capacidade de memorização,
do que propriamente à compreensão. Ciari refere, exemplos como a memorização de
rios, montes, do número de habitantes de cada país, entre outros. Estudar
geografia seria armazenar toda uma enorme
quantidade de dados analíticos, vistos de um modo estático, como se o mundo
sempre tivesse sido assim. O autor reflete, assim, em torno da necessidade
de uma mudança, valorizando-se uma perspetiva integradora e de inter-relação
entre fenómenos físicos e humanos, não esquecendo também a influência dos
fatores históricos. Para Ciari estas mudanças significariam que a Geografia seria
mais humanizada; não será já fria
vivissecção mas sim compreensão inteligente de uma realidade viva.
Olhando para esta visão de Bruno Ciari, vemos que,
efetivamente, o ensino da Geografia conheceu já várias transformações até aos
dias de hoje. Porém, se pararmos para pensar, em algumas situações não
prevalecerá ainda a memorização e não a compreensão?
Ricardo, os anos passam mas a matriz disciplinar da geografia permanece praticamente imutável, como se o tempo nada apagasse... Existem vários fatores que contribuem para esta situação, entre os quais a influência da escola francesa, muito liga ao historicismo e à História, que ainda hoje, embora em declínio, continua a dar forma à geografia praticada nas escolas. Tenho lutado muito contra esta prática escolar, mas já desisti, pois não vejo no horizonte sinais que algum dia algo mude de facto! Este problema não se observa no mundo anglo-saxónico e a questão que se levanta porque é que neste mundo a geografia é mais conceituada.
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