Lampert, R. (2013). O estudo do
lugar como formação do conhecimento e a prática docente em Geografia. In Tonini, I; Kaercher N & Holgado F. Ensino da Geografia e da História – Saberes e Fazeres
na Contemporaneidade (pp.133-148). Porto Alegre: Evangraf.
Ainda na senda da relevância do
lugar para a educação geográfica, importa olhar para o trabalho de Rodrigo
Lampert, que reflete, precisamente, sobre esta questão, entre outros aspetos.
Lampert inicia o seu texto pondo
em evidência os desafios que se apresentam à prática docente, nomeadamente
conseguir cativar os alunos, proporcionando aprendizagens significativas aos
mesmos. O autor refere que “o conhecimento acumulado nos anos de graduação garante
os conhecimentos e os conceitos a serem trabalhados em sala de aula, no
entanto, não garantem que a prática docente seja significativa aos alunos”.
Lampert organiza este seu
trabalho em vários capítulos, cada um deles com ideias que interessa observar.
Em: O ser docente e o conhecimento,
Lampert começa por dizer que “para ser professor não basta simplesmente transmitir
o conhecimento: o docente é um agente provocador de transformações”. Neste
capítulo, o autor reflete sobre as questões ligadas ao conhecimento e como este
se adquire. Lampert faz referência a outros autores, nomeadamente Bachelard,
destacando que os professores tendem a não ter em conta as aprendizagens
prévias que os alunos já trazem para a sala de aula, assumindo que o conhecimento
do aluno apenas começa no momento da aula. Nas palavras de Lampert, o
conhecimento dá-se quando “um conhecimento cotidiano, que muitas vezes é
empírico e que pode ser chamado de senso comum, o qual o aluno já detém, entra
em contato com o saber científico o qual o professor detém, resultando numa
reestruturação destes saberes”. O autor refere, no entanto, que esta
articulação ainda não está presente nas escolas, prevalecendo uma separação
entre estas duas dimensões, o que acaba por se revelar um obstáculo segundo esta
perspetiva. No capítulo seguinte: Uma
geografia do cotidiano, Lampert, no seguimento do que foi dito no capítulo
anterior, destaca a importância do lugar na construção desta perspetiva de
geografia escolar. Lampert refere que “por meio do estudo do lugar o aluno
poderia aprender a observar a paisagem do ponto de vista de sua ordenação
territorial e dominar, então, a linguagem utilizada pela Geografia, permitindo
assim o entendimento do mundo geograficamente”. Fazendo referência a um outro
autor, mais concretamente Kaercher, Lampert chama a atenção para a ideia de alfabetização geográfica, aspeto que é
fundamental numa geografia escolar que pretende que o aluno entenda o mundo que
o rodeia, conseguindo estabelecer relações entre os conteúdos mais teóricos e
aquilo que observa no seu dia-a-dia. Um exemplo prático da aplicação desta
perspetiva é, precisamente, o que Lampert apresenta nos capítulos seguintes: Procurando novas topogêneses e Aprendendo sobre as paisagens. O autor
apresenta, assim, um estudo levado a cabo em Rio Grande do Sul, no Brasil, com
alunos de diferentes faixas etárias, com o objetivo de levar estes alunos a
explorarem o bairro onde viviam, descobrindo e refletindo sobre os “seus
lugares”. Para terminar, Lampert dedica ainda um capítulo às questões ligadas à
cartografia, ao qual chamou: Primeiros
passos cartográficos. O autor reconhece a “omnipresença dos mapas” no
âmbito educativo, no entanto aponta a existência de algumas dificuldades de
leitura e compreensão cartográfica, o que se tem revelado um desafio a superar.
Neste sentido, o autor descreve uma experiência levada a cabo, precisamente com
o objetivo de contribuir para uma melhor “alfabetização cartográfica”.
Estamos, assim, perante um
trabalho que coloca em evidência um dos grandes desafios para a prática docente
– contribuir para que os alunos adquiram aprendizagens efetivamente
significativas para os mesmos. Só uma geografia escolar que consiga conciliar
conteúdos teóricos com realidades observáveis no dia-a-dia pode dar resposta a
este desafio, fazendo com que o aluno entenda o mundo que o rodeia, sentindo-se
verdadeiramente “agente de transformação das paisagens e do espaço geográfico”.
Só conseguindo estabelecer a ponte entre o conhecimento geográfico e a realidade
que o rodeia é o que o aluno se aperceberá verdadeiramente da presença e
importância da geografia no seu dia-a-dia.
Reflexão muito interessante e bem enquadrada com os conteúdos do seminário. Não conheço o livro mas vou querer conhecê-lo pois tudo vai ao encontro da minha conceção do que deve ser a prática da geografia escolar.
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