Cartaz do VII Encontro de Professores e Educadores de Montijo e Alcochete |
Programa do Encontro |
No passado dia 23 de Março tive a oportunidade de estar
presente no VII Encontro de Professores e Educadores de Montijo e Alcochete,
uma manhã, a meu ver, bastante proveitosa, onde pude assistir a intervenções
cujos conteúdos contemplaram várias ideias que merecerem ser tidas em conta
quando falamos em formação de professores. É certo que este encontro esteve
focado na formação contínua de professores, algo decorrente do debate em torno
destas questões, não esquecendo as recentes alterações ao Quadro Normativo que
regula este assunto, tal como foi destacado pela Dr.ª Marta Alves, diretora do
Centro de Formação de Professores de Montijo e Alcochete (CENFORMA) e grande
dinamizadora deste encontro. Não obstante este foco na formação contínua, penso
que as ideias apresentadas são igualmente muito importantes para quem
frequenta, agora, a formação inicial de professores, neste caso, em Geografia.
Este foi um encontro que contou com a participação de vários convidados, entre
os quais o Professor Joaquim Raminhos, na qualidade de representante dos
Centros de Formação de Associação de Escolas de Lisboa e Vale do Tejo, bem como
o Eng.º Nuno Canta, Presidente da Câmara Municipal do Montijo, que realçou, na
sua intervenção, a importância da democratização do sucesso em contexto
educativo, sendo fundamental estimular o trabalho colaborativo no comunidade
educativa, contando com a participação de todos.
De salientar a Conferência de Abertura, a cargo da
Professora Ângela Rodrigues, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa,
que apresentou algumas reflexões a propósito da formação contínua de
professores, recordando, por exemplo, que o direito dos professores a este tipo
de formação é algo que nasce com a Lei de Bases do Sistema Educativo, de 1986,
sendo que, ao longo do tempo, a formação contínua de professores seguiu um
percurso que esteve assente em diferentes perspetivas, um caminho paralelo ao
próprio percurso profissional dos professores, nos últimos trinta anos. A
formação contínua de professores evoluiu, passando-se de uma formação mais
centrada no formador para uma formação mais centrada no formando, assente nos
problemas, nas necessidades percebidas, na reflexão em torno da própria prática
profissional. Pensando bem, este percurso evolutivo acaba, até, por ser
transversal a todo o âmbito formativo, de uma maneira geral.
Ao longo da manhã, longa mas muito rica, foram apresentadas
várias propostas e projetos, desenvolvidos pelas várias escolas e agrupamentos
de escolas dos concelhos do Montijo e Alcochete. Os temas foram vários e
passaram pela importância da Intervenção Precoce junto de crianças dos 0 aos 6
anos de idade, a gestão de conflitos em contexto escolar, as parcerias
internacionais, o combate ao insucesso escolar, entre outros temas.
Independentemente desta diversidade, penso que há um aspeto transversal que
acaba por estar subjacente a qualquer um destes projetos. Falo da importância
do trabalho colaborativo no âmbito da formação contínua dos professores
intervenientes em cada um dos mesmos, algo fundamental para o sucesso de
qualquer um destes projetos.
Toda a manhã foi, para mim, bastante interessante, no
entanto não quero deixar de fazer uma referência especial à Conferência de
Encerramento, da responsabilidade da Professora Manuela Esteves, do Instituto
de Educação da Universidade de Lisboa, que teve o mérito de, através da sua
intervenção, cativar a atenção dos que ainda estavam presentes na sala, numa
altura em que hora era já avançada e “os estômagos se começavam a manifestar”.
Foi uma intervenção, a meu ver, sintética, mas onde foram abordados
aspetos-chave quando falamos do percurso formativo de qualquer professor, não
só ao longo, mas também no início do respetivo percurso profissional. Uma
destas ideias principais, que retive, diz respeito à necessidade de não
esquecer que a formação não decorre apenas em ambiente formal, por exemplo numa
sala destinada ao efeito, com hora marcada e duração definida. A formação pode
ocorrer, efetivamente, neste tipo de ambiente, no entanto não deve ser
desvalorizada uma componente informal, que está também associada ao processo
formativo. A formação não ocorre apenas numa sala destinada a esse fim, mas
também todos os dias, através do contacto com os colegas de trabalho, bem como da
história de vida de cada pessoa. De acordo com a Professora Manuela Esteves
toda a formação é um fenómeno paradoxal, na medida que ninguém forma uma
pessoa, se essa pessoa se recusar a ser formada, mas também ninguém se forma exclusivamente
sozinho. A chave está, assim, em saber o que fazer para aproximar os dois
extremos deste paradoxo. Uma aproximação entre os interesses individuais de
cada um e os dispositivos de formação pode revelar-se importante neste sentido.
Outro dos aspetos destacados relaciona-se com a importância dos projetos,
nascidos de tomadas de consciência face à necessidade de encontrar respostas
para problemas concretos, o que implica uma componente de experimentação e
aplicação, componente esta que pode ser estimulada em contexto formativo
através de modalidades de formação que valorizem esta dimensão, nomeadamente as
oficinas de formação. Os professores podem criar conhecimento acerca da sua
profissão e este é um aspeto que não deve ser esquecido. Este conhecimento
construído deve, no entanto, merecer uma reflexão cuidada em torno do mesmo, ou
seja, há que teorizar as práticas. As experiências formativas não devem
assentar exclusivamente num relato das práticas, devendo haver também espaço
para uma teorização. Por fim, gostaria ainda de fazer referência a um outro
aspeto destacado pela Professora Manuela Esteves e que diz respeito à
importância da revalorização da formação formal de professores. Uma
revalorização que deve assentar em princípios, estratégias e recursos.
Princípios como a articulação entre formação formal e formação informal;
estratégias que passem pela flexibilidade, adaptação e diversificação e ainda
recursos que devem ser cuidadosamente geridos.
Em suma, o VII Encontro de Professores e Educadores de
Montijo e Alcochete constituiu uma oportunidade para tomar contacto com aspetos
relevantes no âmbito da formação contínua de professores, aspetos estes que
são, naturalmente, úteis para quem já é professor, mas que não o deixam de ser
também para quem está ainda no início do percurso.