Os professores constituem o mais importante recurso em educação. Devido a este facto e à complexidade dos estudos geográficos, são essenciais professores especialistas possuidores de uma adequada formação profissional.
Carta Internacional da Educação Geográfica

quinta-feira, 24 de março de 2016

Ensino da Geografia - Uma perspetiva ibérica e um exemplo britânico

Logótipo da Universidade de Castilla-La Mancha

A quinta sessão de MEG teve a particularidade de contar com a presença da Professora Elena Muñoz, da Faculdade de Educação da Universidade de Castilla-La Mancha, cuja intervenção incidiu sobre a presença da Geografia no sistema de ensino em Espanha, bem como sobre a formação de professores no mesmo país, mais particularmente em Castilla-La Mancha.

Fiquei, assim, a conhecer vários aspetos relacionados com a realidade espanhola neste âmbito, algo que considerei muito interessante, permitindo-me estabelecer uma comparação geral face à realidade portuguesa. Estas realidades são, regra geral, diferentes, sendo que em Espanha, por exemplo, há uma legislação nacional, que pode ser depois adaptada por cada uma das regiões aos respetivos territórios. Poder-se-á, assim, dizer que o grau de autonomia regional é maior em Espanha, sendo que esta autonomia chega mesmo ao nível das escolas. De salientar também que, em Espanha, a proximidade entre Geografia e História é maior, sendo que a disciplina correspondente designa-se sempre “Geografia e História” no ciclo designado por “Educación Secundaria Obligatoria”, o que equivale ao período entre o sétimo e décimo ano de escolaridade, em Portugal. Esta designação não implica, no entanto, que em todos os anos sejam abordados, simultaneamente, conteúdos de ambas as áreas, podendo ocorrer uma alternância de temas entre anos diferentes. A formação de professores em Espanha está, também ela, organizada de uma forma algo diferente, sendo que qualquer pessoa que ambicione ser professor, independentemente da área científica, terá sempre de frequentar o “Máster Universitario en Profesor de Educación Secundaria Obligatoria y Bachillerato, Formación Profesional y Enseñanza de Idiomas”. Este curso de Mestrado decorre durante um ano letivo, correspondendo a sessenta créditos e estando organizado em três Módulos principais: “Común”, “Específico” e “Prácticum”. De salientar que, no caso da Geografia, a especialidade correspondente é “Geografía, Historia e Historia del Arte”, o que vem evidenciar, mais uma vez, a proximidade entre Geografia e História. Esta foi, assim, uma oportunidade de ter contacto com a realidade de um país tão próximo, mas com várias diferenças em termos de sistema educativo.

Num segundo momento desta quinta sessão de MEG houve ainda oportunidade para olhar para uma proposta no âmbito da planificação da atividade letiva, a partir de excertos de um artigo da autoria do Professor Sérgio Claudino, intitulado “A Planificação e a Introdução do Conflito no Ensino de Geografia”. Trata-se de uma proposta, desenvolvida por Frances Slater, pensada para uma aula de setenta minutos, a propósito do tema dos recursos e exploração da terra na América do Sul e destinada a uma turma britânica formada por alunos com idades entre os doze e os treze anos. Relativamente a esta proposta, houve oportunidade de refletir em torno de várias ideias que se revelam úteis quando pensamos na planificação de uma aula de Geografia. Uma destas ideias diz respeito à diversidade de atividades que podem ter lugar numa aula, o que contribui, em grande parte, para o seu dinamismo e que pode, também, fazer toda a diferença no maior ou menor sucesso da mesma. Frances Slater contempla, nesta sua proposta, atividades como a análise de textos, o visionamento de vídeos, a produção de textos, o trabalho em grupo, entre várias outras possibilidades. Um aspeto importante, associado a esta diversidade de atividades, tem a ver com a “gradação” que deve estar na base da organização das mesmas. As aprendizagens podem ser potenciadas se houver uma preparação prévia, o que pode ser colocado em prática precisamente através desta ideia de “gradação de atividades”. O visionamento de um vídeo, por exemplo, pode ser precedido pela leitura de um texto de introdutório, tal como é contemplado nesta proposta de Slater. Ainda no âmbito destas atividades, há outro aspeto que merece ser destacado, mais concretamente a valorização da produção escrita, presente nesta proposta, por exemplo, quando o visionamento do vídeo tem uma atividade escrita associada. Esta proposta remete-nos ainda para um outro aspeto importante, nomeadamente a questão do conflito, que é destacado nesta proposta, levando os alunos a refletirem sobre dois pontos de vista totalmente opostos em relação a um mesmo assunto. É fazendo os alunos viver este conflito, que eles melhor aprendem a conhecer e a apropriar-se do mundo que os cerca (Claudino, 1992). Poder-se-á questionar se esta proposta seria exequível em apenas setenta minutos, no entanto a riqueza de aspetos a propósito da planificação da atividade letiva motiva que a mesma mereça ser analisada neste âmbito.



Claudino, S. (1992). A Planificação e a Introdução do Conflito no Ensino da Geografia. Actas do VI Encontro Nacional de Professores de Geografia. Associação de Professores de Geografia, Lisboa, p. 111-118.

1 comentário:

  1. Mais um comentário pertinente do Ricardo. Note-se como a formação inicial é mais abreviada em Espanha que em Portugal.
    Já relativamente ao texto, com o pouco realismo dos tempos, uma proposta "didática", ainda não completamente terminada de analisar.

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