Continuando a olhar para os aspetos que devem merecer atenção por parte de um professor quando se debruça sobre a planificação de uma aula, importa explorar a questão das perguntas que é suposto serem colocadas aos alunos durante uma aula. Este foi, precisamente, um dos principais temas abordados na quarta sessão de IPPI.
Penso que não estarei a exagerar se disser que, idealmente,
não existe nenhuma aula em que não sejam colocadas questões, quer pelo
professor, quer pelos alunos. Até numa aula de teste de avaliação, por exemplo,
as perguntas não deixam de estar presentes, ainda que não de uma forma verbal,
mas sim escrita. Assim, falar em aulas implica, inevitavelmente, falar em
perguntas, sendo que este tema não é tão simples como possa, à partida,
parecer. Existem diferentes tipos de perguntas, com destinatários também eles
diversos, o que leva a que um professor deva ter o cuidado de adequar a
pergunta que quer colocar, quer quanto ao seu tipo, quer quanto aos destinatários,
tendo em conta a situação e o momento da aula em que vai ser colocada a dita
pergunta. Este cuidado fará, certamente, toda a diferença quanto ao maior ou
menor sucesso deste tipo de experiência educativa.
Desde logo, uma pergunta pode ser considerada aberta, quando
é mais geral, de cariz mais abrangente, ou fechada, quando é mais específica,
de cariz mais objetivo. Poder-se-á dizer que faz sentido apostar em perguntas
abertas, numa aula, e existem momentos em que estas podem, efetivamente, ser
úteis e importantes, nomeadamente no início da aula. Não é menos verdade, porém,
que a eficácia e utilidade de uma pergunta aberta pode ficar comprometida,
quando os alunos não tiverem capacidade de responder à mesma. Nestas situações
é fundamental “fechar” a pergunta, de modo que os alunos, através de elementos
mais concretos, consigam mais facilmente entender o sentido da pergunta e
chegar a uma resposta para a mesma. É, assim, imprescindível que o professor
tenha esta preocupação, pois será muito mais proveitoso que o aluno responda a
uma pergunta fechada, do que insistir numa pergunta aberta, a que o aluno não
conseguirá, de todo, responder.
Seguindo a mesma lógica, haverá situações em que fará mais
sentido dirigir uma pergunta a toda a turma, ao passo que, noutras situações,
será mais indicado dirigir a pergunta a um aluno em particular. Olhando para a
pergunta dirigida a toda a turma, esta apresenta algumas vantagens,
nomeadamente o facto de ser, à partida, menos “intimidatória”, para além de a
probabilidade de se obter uma resposta certa ser muito maior. Para além disto,
uma pergunta dirigida à turma contribui para introduzir um maior dinamismo ao
próprio ritmo da aula, permitindo mobilizar a generalidade dos alunos. Este
aspeto motiva, inclusivamente, que este tipo de pergunta seja bastante útil no
início das aulas. Estas vantagens não invalidam, porém, um aspeto menos
favorável, que não pode ser esquecido. Falo da ilusão de aprendizagem coletiva
que uma pergunta dirigida à turma pode fornecer ao professor, já que o facto de
dois ou três alunos terem respondido corretamente a uma pergunta não significa
que toda a turma tenha, efetivamente, conseguido responder. As perguntas
dirigidas a alunos em particular, por seu lado, são vantajosas na medida que
permitem mobilizar alunos menos participativos, para além de facilitarem a
identificação das aprendizagens realmente efetuadas pelos alunos. Este tipo de
perguntas proporciona, ainda, um ambiente mais calmo de discussão/avaliação,
assumindo o professor o papel de moderador, que assegura que todos participam,
mas não deixa de respeitar a diversidade dos alunos, cujos níveis de
participação são, naturalmente, diferentes. A uma pergunta desta natureza pode
estar, no entanto, associado um aspeto menos favorável, nomeadamente o facto de
a questão ser dirigida a um aluno em particular poder levar a que os restantes
alunos se desinteressem relativamente à mesma. Uma possível forma de contornar
este aspeto consiste em dirigir a pergunta a toda a turma, levando a que todos
os alunos pensem numa resposta à mesma, selecionando o professor, posteriormente,
um aluno para apresentar a sua resposta. Poder-se-á dizer que estas perguntas
dirigidas a alunos em particular fazem especial sentido no final da aula,
momento de revisão, avaliação e eventual retificação do que foi aprendido.
Outro assunto, igualmente destacado nesta quarta sessão de
IPPI, diz respeito a algumas questões terminológicas, mais concretamente quanto
à noção de “competência”. Este é um conceito amplamente utilizado,
inclusivamente em documentos oficiais de âmbito educativo, mas nem sempre no
real sentido do termo. Tal como é referido no Currículo Nacional do Ensino
Básico, as competências referem-se a “saberes em uso” (pág. 15), algo associado
a um saber prático, com utilidade, com uma clara inspiração no ensino
profissional. Muitas vezes, certos enunciados tidos como competências são, em
rigor, objetivos, pois carecem desta componente de aplicação, indispensável a
uma verdadeira competência. É, assim, fundamental que qualquer professor tenha
consciência destes aspetos terminológicos, algo que deve ter presente no âmbito
da construção de planificações de aula, a bem da coerência e correção das
mesmas.
Correto, Ricardo. Talvez possamos dizer que, mais do que sem perguntas, uma aula não pode viver sem diálogo. A discussão sobre a utilização de perguntas abertas ou fechadas, dirigidas à turma ou ao aluno, é sempre uma discussão em aberto...
ResponderEliminarSérgio Claudino