Os professores constituem o mais importante recurso em educação. Devido a este facto e à complexidade dos estudos geográficos, são essenciais professores especialistas possuidores de uma adequada formação profissional.
Carta Internacional da Educação Geográfica

sábado, 26 de março de 2016

Uma manhã formativa

Cartaz do VII Encontro de Professores e Educadores de Montijo e Alcochete
Programa do Encontro

No passado dia 23 de Março tive a oportunidade de estar presente no VII Encontro de Professores e Educadores de Montijo e Alcochete, uma manhã, a meu ver, bastante proveitosa, onde pude assistir a intervenções cujos conteúdos contemplaram várias ideias que merecerem ser tidas em conta quando falamos em formação de professores. É certo que este encontro esteve focado na formação contínua de professores, algo decorrente do debate em torno destas questões, não esquecendo as recentes alterações ao Quadro Normativo que regula este assunto, tal como foi destacado pela Dr.ª Marta Alves, diretora do Centro de Formação de Professores de Montijo e Alcochete (CENFORMA) e grande dinamizadora deste encontro. Não obstante este foco na formação contínua, penso que as ideias apresentadas são igualmente muito importantes para quem frequenta, agora, a formação inicial de professores, neste caso, em Geografia. Este foi um encontro que contou com a participação de vários convidados, entre os quais o Professor Joaquim Raminhos, na qualidade de representante dos Centros de Formação de Associação de Escolas de Lisboa e Vale do Tejo, bem como o Eng.º Nuno Canta, Presidente da Câmara Municipal do Montijo, que realçou, na sua intervenção, a importância da democratização do sucesso em contexto educativo, sendo fundamental estimular o trabalho colaborativo no comunidade educativa, contando com a participação de todos.

De salientar a Conferência de Abertura, a cargo da Professora Ângela Rodrigues, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que apresentou algumas reflexões a propósito da formação contínua de professores, recordando, por exemplo, que o direito dos professores a este tipo de formação é algo que nasce com a Lei de Bases do Sistema Educativo, de 1986, sendo que, ao longo do tempo, a formação contínua de professores seguiu um percurso que esteve assente em diferentes perspetivas, um caminho paralelo ao próprio percurso profissional dos professores, nos últimos trinta anos. A formação contínua de professores evoluiu, passando-se de uma formação mais centrada no formador para uma formação mais centrada no formando, assente nos problemas, nas necessidades percebidas, na reflexão em torno da própria prática profissional. Pensando bem, este percurso evolutivo acaba, até, por ser transversal a todo o âmbito formativo, de uma maneira geral.

Ao longo da manhã, longa mas muito rica, foram apresentadas várias propostas e projetos, desenvolvidos pelas várias escolas e agrupamentos de escolas dos concelhos do Montijo e Alcochete. Os temas foram vários e passaram pela importância da Intervenção Precoce junto de crianças dos 0 aos 6 anos de idade, a gestão de conflitos em contexto escolar, as parcerias internacionais, o combate ao insucesso escolar, entre outros temas. Independentemente desta diversidade, penso que há um aspeto transversal que acaba por estar subjacente a qualquer um destes projetos. Falo da importância do trabalho colaborativo no âmbito da formação contínua dos professores intervenientes em cada um dos mesmos, algo fundamental para o sucesso de qualquer um destes projetos.

Toda a manhã foi, para mim, bastante interessante, no entanto não quero deixar de fazer uma referência especial à Conferência de Encerramento, da responsabilidade da Professora Manuela Esteves, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que teve o mérito de, através da sua intervenção, cativar a atenção dos que ainda estavam presentes na sala, numa altura em que hora era já avançada e “os estômagos se começavam a manifestar”. Foi uma intervenção, a meu ver, sintética, mas onde foram abordados aspetos-chave quando falamos do percurso formativo de qualquer professor, não só ao longo, mas também no início do respetivo percurso profissional. Uma destas ideias principais, que retive, diz respeito à necessidade de não esquecer que a formação não decorre apenas em ambiente formal, por exemplo numa sala destinada ao efeito, com hora marcada e duração definida. A formação pode ocorrer, efetivamente, neste tipo de ambiente, no entanto não deve ser desvalorizada uma componente informal, que está também associada ao processo formativo. A formação não ocorre apenas numa sala destinada a esse fim, mas também todos os dias, através do contacto com os colegas de trabalho, bem como da história de vida de cada pessoa. De acordo com a Professora Manuela Esteves toda a formação é um fenómeno paradoxal, na medida que ninguém forma uma pessoa, se essa pessoa se recusar a ser formada, mas também ninguém se forma exclusivamente sozinho. A chave está, assim, em saber o que fazer para aproximar os dois extremos deste paradoxo. Uma aproximação entre os interesses individuais de cada um e os dispositivos de formação pode revelar-se importante neste sentido. Outro dos aspetos destacados relaciona-se com a importância dos projetos, nascidos de tomadas de consciência face à necessidade de encontrar respostas para problemas concretos, o que implica uma componente de experimentação e aplicação, componente esta que pode ser estimulada em contexto formativo através de modalidades de formação que valorizem esta dimensão, nomeadamente as oficinas de formação. Os professores podem criar conhecimento acerca da sua profissão e este é um aspeto que não deve ser esquecido. Este conhecimento construído deve, no entanto, merecer uma reflexão cuidada em torno do mesmo, ou seja, há que teorizar as práticas. As experiências formativas não devem assentar exclusivamente num relato das práticas, devendo haver também espaço para uma teorização. Por fim, gostaria ainda de fazer referência a um outro aspeto destacado pela Professora Manuela Esteves e que diz respeito à importância da revalorização da formação formal de professores. Uma revalorização que deve assentar em princípios, estratégias e recursos. Princípios como a articulação entre formação formal e formação informal; estratégias que passem pela flexibilidade, adaptação e diversificação e ainda recursos que devem ser cuidadosamente geridos.    


Em suma, o VII Encontro de Professores e Educadores de Montijo e Alcochete constituiu uma oportunidade para tomar contacto com aspetos relevantes no âmbito da formação contínua de professores, aspetos estes que são, naturalmente, úteis para quem já é professor, mas que não o deixam de ser também para quem está ainda no início do percurso.

2 comentários:

  1. Um comentário pertinente e com plena justificação neste blogue. Seria interessante uma referência às várias intervenções, sem prejuízo do que referiu em relação à Professora Ângela e à Professora Manuela Esteves. Parabéns, uma vez mais.

    ResponderEliminar
  2. Um comentário pertinente e com plena justificação neste blogue. Seria interessante uma referência às várias intervenções, sem prejuízo do que referiu em relação à Professora Ângela e à Professora Manuela Esteves. Parabéns, uma vez mais.

    ResponderEliminar