Os professores constituem o mais importante recurso em educação. Devido a este facto e à complexidade dos estudos geográficos, são essenciais professores especialistas possuidores de uma adequada formação profissional.
Carta Internacional da Educação Geográfica

sexta-feira, 11 de março de 2016

O Ensino da Geografia - altos e baixos, mas nunca a ausência

A “viagem” pelo caminho percorrido na afirmação da Geografia e do seu ensino em Portugal teve, na terceira sessão de MEG, mais uma “paragem”, desta vez a partir da segunda fase do chamado “Segundo Nacionalismo”, já referido anteriormente.

Esta fase inicia-se por altura da Revolução de 25 de Abril de 1974. Efetivamente, a Geografia e também a História não viveram um período propriamente próspero ao nível do respetivo ensino, nesta fase. Falamos de disciplinas que haviam sido fortemente utilizadas pelo regime político anterior, de cariz ditatorial, que via nestas mesmas disciplinas poderosos instrumentos de propaganda. Podemos dizer que, neste período, o ensino da Geografia e da História estava mais “camuflado”. Neste âmbito, importa mesmo referir algumas experiências levadas a cabo por Veiga Simão, apostando em designações de disciplinas como “ciências sociais”, ou “ciências do ambiente”.

Portugal foi, assim, tornando-se num país que precisava de voltar a gostar de si mesmo. O império colonial já não era uma realidade, mas os portugueses precisavam de voltar a identificar-se com o seu país, agora já com uma nova configuração do respetivo território. Para a concretização deste objetivo, a Geografia teria uma palavra a dizer e assim, em 1977/1978, assiste-se a um novo fortalecimento no ensino da Geografia, inclusivamente com o surgimento de novos programas. Destaque para o programa do oitavo ano de escolaridade, que se debruçava sobre a Geografia de Portugal. A propósito deste programa importa também referir que o mesmo apresentava uma forte inspiração na Geografia regional francesa, iniciando com o estudo dos aspetos ligados ao relevo e ao clima e, só depois, questões mais ligadas à população. Este era um programa em que o tema do espaço rural saía fortemente valorizado comparativamente com outros temas. A título de exemplo, ao estudo do espaço rural eram dedicados trinta objetivos de aprendizagem, ao passo que ao espaço industrial apenas eram dedicados três objetivos. Ainda a propósito deste programa, importa falar em Orlando Ribeiro, cuja perspetiva de abordagem da Geografia, de inspiração fortemente Possibilista, acaba por estar claramente presente neste programa de Geografia do oitavo ano de escolaridade. Não esqueçamos que é nas áreas rurais que mais facilmente pode ser observada a relação biunívoca entre Homem e Natureza, tão destacada pela Escola Possibilista. Para além disto, é também impossível ignorar que Portugal, por esta altura, era ainda um país muito marcado pela ruralidade. Este aspeto, com o passar do tempo, foi começando a ser visto como uma crítica ao ensino da Geografia, acusado de ser demasiado “memorístico” e “ruralístico”. Em meados dos anos oitenta, pode mesmo dizer-se que a Geografia se encontrava numa posição de risco, o que contribuiu até para a criação da Associação de Professores de Geografia, em 1987.

O final dos anos oitenta trouxe um “novo ciclo” ao ensino da Geografia em Portugal, privilegiando-se, agora, uma vocação mais europeia, algo diretamente decorrente da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, em 1986. Dá-se, por esta altura, uma importante reforma, mais concretamente a Reforma Curricular de 1989. Com esta reforma, assiste-se, no fundo, a uma reconstrução da vocação nacionalista associada ao ensino da Geografia. Desta vez, o objetivo não seria levar os portugueses a identificarem-se com Portugal, mas sim com a Europa. A Geografia de Portugal, tão valorizada no período anterior, mais precisamente no programa do oitavo ano, desaparece no Ensino Básico e a Geografia deixa mesmo de existir neste ano de escolaridade, na sequência desta reforma. A Geografia no Ensino Básico, por esta altura, debruçava-se, assim, sobre questões ligadas à Europa no sétimo ano de escolaridade, virando-se para uma escala mundial no nono ano de escolaridade. Eu próprio fui aluno deste modelo, sendo que no meu “baú de recordações” encontrei os dois manuais escolares de Geografia que utilizei, na altura, e cujas estruturas e até as capas ilustram precisamente esta organização.

A capa e o próprio título de O Livro da Europa, o meu manual de Geografia no sétimo ano de escolaridade, não deixam margem para dúvidas relativamente à vocação claramente europeia do programa de Geografia, nesta altura.

Proença, M. & Martins, M. (2001). O Livro da Europa. (8ª edição). Lisboa: Plátano Editora.
Contracapa de O Livro da Europa
Temas de O Livro da Europa

No nono ano de escolaridade, a situação foi idêntica e a vocação mundial associada ao programa de Geografia, por esta altura, fica clara particularmente pelos temas que estruturam GEO 9, o meu manual de Geografia no nono ano de escolaridade.

Mota, R. & Atanásio, J. (2003). GEO 9. (7ª edição). Lisboa: Plátano Editora.
Temas de Geo 9
A situação não ficou por aqui e, até à atualidade, mais haverá a dizer quanto à evolução da Geografia e do seu ensino em Portugal…

2 comentários:

  1. Na realidade, a educação geográfica tem oscilado entre uma vocação mais nacionalista, nacionalismo que se readapta no discurso europeista, e no discurso universalista, de queo 9º ano tem sido testemunha. A Manuela e a Matilde forma minhas alunas em 1988/89 (e boas alunas). Uma excelente análise da influência da escola regional francesa no discurso escolar. Parabéns, uma vez mais.

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  2. Na realidade, a educação geográfica tem oscilado entre uma vocação mais nacionalista, nacionalismo que se readapta no discurso europeista, e no discurso universalista, de queo 9º ano tem sido testemunha. A Manuela e a Matilde forma minhas alunas em 1988/89 (e boas alunas). Uma excelente análise da influência da escola regional francesa no discurso escolar. Parabéns, uma vez mais.

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