A “viagem” pelo caminho percorrido na afirmação da Geografia
e do seu ensino em Portugal teve, na terceira sessão de MEG, mais uma
“paragem”, desta vez a partir da segunda fase do chamado “Segundo
Nacionalismo”, já referido anteriormente.
Esta fase inicia-se por altura da Revolução de 25 de Abril
de 1974. Efetivamente, a Geografia e também a História não viveram um período
propriamente próspero ao nível do respetivo ensino, nesta fase. Falamos de
disciplinas que haviam sido fortemente utilizadas pelo regime político
anterior, de cariz ditatorial, que via nestas mesmas disciplinas poderosos
instrumentos de propaganda. Podemos dizer que, neste período, o ensino da
Geografia e da História estava mais “camuflado”. Neste âmbito, importa mesmo
referir algumas experiências levadas a cabo por Veiga Simão, apostando em
designações de disciplinas como “ciências sociais”, ou “ciências do ambiente”.
Portugal foi, assim, tornando-se num país que precisava de
voltar a gostar de si mesmo. O império colonial já não era uma realidade, mas
os portugueses precisavam de voltar a identificar-se com o seu país, agora já
com uma nova configuração do respetivo território. Para a concretização deste
objetivo, a Geografia teria uma palavra a dizer e assim, em 1977/1978,
assiste-se a um novo fortalecimento no ensino da Geografia, inclusivamente com
o surgimento de novos programas. Destaque para o programa do oitavo ano de
escolaridade, que se debruçava sobre a Geografia de Portugal. A propósito deste
programa importa também referir que o mesmo apresentava uma forte inspiração na
Geografia regional francesa, iniciando com o estudo dos aspetos ligados ao
relevo e ao clima e, só depois, questões mais ligadas à população. Este era um
programa em que o tema do espaço rural saía fortemente valorizado
comparativamente com outros temas. A título de exemplo, ao estudo do espaço
rural eram dedicados trinta objetivos de aprendizagem, ao passo que ao espaço
industrial apenas eram dedicados três objetivos. Ainda a propósito deste
programa, importa falar em Orlando Ribeiro, cuja perspetiva de abordagem da Geografia,
de inspiração fortemente Possibilista, acaba por estar claramente presente
neste programa de Geografia do oitavo ano de escolaridade. Não esqueçamos que é
nas áreas rurais que mais facilmente pode ser observada a relação biunívoca
entre Homem e Natureza, tão destacada pela Escola Possibilista. Para além disto,
é também impossível ignorar que Portugal, por esta altura, era ainda um país muito
marcado pela ruralidade. Este aspeto, com o passar do tempo, foi começando a
ser visto como uma crítica ao ensino da Geografia, acusado de ser demasiado “memorístico”
e “ruralístico”. Em meados dos anos oitenta, pode mesmo dizer-se que a
Geografia se encontrava numa posição de risco, o que contribuiu até para a
criação da Associação de Professores de Geografia, em 1987.
O final dos anos oitenta trouxe um “novo ciclo” ao ensino da
Geografia em Portugal, privilegiando-se, agora, uma vocação mais europeia, algo
diretamente decorrente da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia,
em 1986. Dá-se, por esta altura, uma importante reforma, mais concretamente a
Reforma Curricular de 1989. Com esta reforma, assiste-se, no fundo, a uma
reconstrução da vocação nacionalista associada ao ensino da Geografia. Desta
vez, o objetivo não seria levar os portugueses a identificarem-se com Portugal,
mas sim com a Europa. A Geografia de Portugal, tão valorizada no período
anterior, mais precisamente no programa do oitavo ano, desaparece no Ensino
Básico e a Geografia deixa mesmo de existir neste ano de escolaridade, na
sequência desta reforma. A Geografia no Ensino Básico, por esta altura,
debruçava-se, assim, sobre questões ligadas à Europa no sétimo ano de
escolaridade, virando-se para uma escala mundial no nono ano de escolaridade.
Eu próprio fui aluno deste modelo, sendo que no meu “baú de recordações” encontrei
os dois manuais escolares de Geografia que utilizei, na altura, e cujas
estruturas e até as capas ilustram precisamente esta organização.
A capa e o próprio título de O Livro da Europa, o meu manual de Geografia no sétimo ano de
escolaridade, não deixam margem para
dúvidas relativamente à vocação claramente europeia do programa de Geografia,
nesta altura.
Proença, M. & Martins, M. (2001). O Livro da Europa. (8ª edição). Lisboa: Plátano Editora. |
Contracapa de O Livro da Europa |
Temas de O Livro da Europa |
No nono ano de escolaridade, a situação foi idêntica e a vocação
mundial associada ao programa de Geografia, por esta altura, fica clara
particularmente pelos temas que estruturam GEO
9, o meu manual de Geografia no nono ano de escolaridade.
Mota, R. & Atanásio, J. (2003). GEO 9. (7ª edição). Lisboa: Plátano Editora. |
Temas de Geo 9 |
A situação não ficou por aqui e, até à atualidade, mais
haverá a dizer quanto à evolução da Geografia e do seu ensino em Portugal…
Na realidade, a educação geográfica tem oscilado entre uma vocação mais nacionalista, nacionalismo que se readapta no discurso europeista, e no discurso universalista, de queo 9º ano tem sido testemunha. A Manuela e a Matilde forma minhas alunas em 1988/89 (e boas alunas). Uma excelente análise da influência da escola regional francesa no discurso escolar. Parabéns, uma vez mais.
ResponderEliminarNa realidade, a educação geográfica tem oscilado entre uma vocação mais nacionalista, nacionalismo que se readapta no discurso europeista, e no discurso universalista, de queo 9º ano tem sido testemunha. A Manuela e a Matilde forma minhas alunas em 1988/89 (e boas alunas). Uma excelente análise da influência da escola regional francesa no discurso escolar. Parabéns, uma vez mais.
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