Os professores constituem o mais importante recurso em educação. Devido a este facto e à complexidade dos estudos geográficos, são essenciais professores especialistas possuidores de uma adequada formação profissional.
Carta Internacional da Educação Geográfica

domingo, 15 de maio de 2016

Da organização do Programa de Geografia A às relações entre Política e Geografia

"Savoir penser l´espace", de Merenne Schoumaker

Na décima segunda sessão de IPPI houve espaço para a abordagem de vários e diversificados temas, o que contribuiu, a meu ver, para que esta sessão fosse “rica” em conteúdos.

A organização do Programa da disciplina de Geografia A foi um destes temas abordados, mais concretamente ao nível da sua estruturação em temas e subtemas, contrariamente ao acontece quantos às Metas Curriculares para o Ensino Básico, estruturadas em domínios e subdomínios. Estes são pormenores particularmente importantes quando se trata de construir planificações letivas.

Nesta sessão houve também oportunidade de analisar o texto “Savoir penser l´espace”, da autoria de Merenne-Schoumaker, análise esta que serviu um pouco como sistematização de algumas ideias que já haviam sido abordadas anteriormente, nomeadamente quanto ao esquema metodológico que, segundo esta autora, deve estar inerente à educação geográfica. Parte-se de um conhecimento prático, que os alunos detêm intuitivamente, conhecimento este que é, posteriormente, confrontado com informação documental, de cariz científico. Desta confrontação nasce um conhecimento mais coerente e integrado, o qual se transforma ainda, numa fase posterior, em conhecimento aplicado. Em todas as fases deste “processo”, o docente tem sempre um papel importante, o que, na minha opinião, torna ainda mais útil a análise deste texto para qualquer professor, ou futuro professor.  

Outro dos temas abordados nesta sessão de IPPI consistiu na importância das atividades de pré e pós observação, no âmbito da prática letiva. Em relação às atividades de pré-observação, estas passam por uma contextualização, caracterização das turmas, das aprendizagens que estas estão a realizar, bem como dos problemas existentes. Esta é uma fase em que assistir a aulas destas turmas se torna uma tarefa fundamental para a concretização dos objetivos da mesma fase. Quanto às atividades de pós-observação, refletir é, talvez, a palavra-chave. Trata-se de uma fase de balanço, quer pessoal, quer partilhado, onde o registo escrito assume, igualmente, um papel de relevo.


A abordagem de assuntos da atualidade em contexto de sala de aula foi outro dos temas analisados no âmbito desta sessão. É certo que não devem ser os temas quotidianos, com toda a sua imprevisibilidade, a estruturar uma aula, no entanto há espaço, neste contexto, para a abordagem destes temas, com que os alunos se vão deparando no seu dia-a-dia. Atualmente, o acesso a informação abundante e diversificada é cada vez maior e mais fácil, porém este acesso não significa, necessariamente, uma correta utilização de toda esta informação. A propósito desta questão, a Escola pode e deve desempenhar um papel crucial, já que pode ajudar o aluno a mobilizar esta informação da melhor forma, bem como saber interpretá-la corretamente. Esta abordagem, em sala de aula, dos temas da atualidade acaba por nos remeter para as relações entre Política e Geografia. Este é, frequentemente, um assunto algo delicado, em virtude de algumas “apropriações” que, ao longo do tempo, a Política foi fazendo em relação à Geografia e que acabaram por deixar alguns “traumas”. Veja-se, a este propósito, o exemplo do Nazismo alemão, que se socorreu de perspetivas desenvolvidas no âmbito da Geografia para legitimar a sua ação ditatorial, mais concretamente a Teoria do Espaço Vital, de Ratzel. Há, assim, uma tendência para uma certa retração ao aproximar Política e Geografia. Esta tendência não tem, no entanto, de perdurar, já que não podemos esquecer a influência da decisão política na construção do território. Dito isto e tendo em conta que a Escola deve ser um espaço de reflexão, faz sentido que o professor encoraje os seus alunos a verbalizarem as suas opiniões quanto a este tipo de temas, refletindo acerca dos mesmos. Levando os alunos a debaterem os seus pontos de vista, a Geografia pode ajudá-los a “descodificar” as várias mensagens com que se deparam no seu dia-a-dia.

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